terça-feira, 23 de julho de 2013

"Malha do centeio - o reviver de uma tradição"

"Malha do centeio - o reviver de uma tradição" ... é triste que estas actividades se percam...devemos lembrá-las para não perder a identidade

O ritual repetia-se todos os anos. A malhadeira assentava arraiais em todas as eiras do povoado. Nada ficava por malhar. Os mangualdes faziam parte do passado e tinham dado lugar a essa máquina, imponente, que quando bem alimentada, era um regalo vê-la parir sacos de centeio com a mêda a desfazer-se.

Há muitos anos atrás a malha (debulha) de cereais como o trigo e o centeio era toda feita, na eira, através de força braçal utilizando-se o mangual. Quando se começou a generalizar o uso das malhadeiras mecânicas, ainda de tracção animal no que se refere à sua deslocação, continuou-se a fazer o transporte do cereal para a eira, com recurso ao carro de bois. No que ao seu funcionamento diz respeito, estas máquinas eram postas a trabalhar, através de uma enorme correia de transmissão, por um motor a vapor (de combustão externa), que, tal como a malhadeira, não era ainda dotado de auto mobilidade, também para a sua deslocação era necessária uma junta de vacas.

Em zonas em que predominava o minifúndio só muito poucos tinham capacidade financeira que lhes permitisse a aquisição deste tipo de equipamento. Os que o conseguiam tentavam rentabilizar o seu uso colocando-o ao serviço da comunidade mediante a cobrança de uma maquia, em cereal, proporcional à produção de cada um.





Este é o palheiro. Palheiro este que era feito com a palha que saia da malhadeira. Palha esta que saia suavemente para a frente da máquina e, sem cair, com a ajuda de ancinhos, alguém se encarregava de a colocar na verga, sempre segura, pela mão do vergueiro.
Os vergueiros, que chegavam a ser três ou quatro, eram geralmente rapazes, que pela sua idade, além de ágeis a subir a escada do palheiro, entravam ao despique de qual deles conseguia levar o borrego maior. Quantas vezes, por desequilíbrio, quando estavam ao meio da escada, era vê-los malhar com os costelaços no chão; raramente com danos físicos, porque se atiravam de modo a que o borrego da palha servisse de almofada na queda.
- Pichotes... Gritavam os mais velhos.
Os vergueiros, sempre sorridentes, mas algumas vezes, feridos no orgulho, principalmente quando se exibiam perante as moçoilas, respondiam com borregos ainda maiores, para mostrarem que a queda tinha sido um percalço na sua carreira de vergueiro afamado e valentão.
Quem não gostava nada de os ver chegar com volumosos borregos era o palheireiro, principalmente, na fase do remate final do palheiro.
 Fazer um palheiro era seguramente uma obra de arte.