O ritual repetia-se todos os anos. A malhadeira assentava
arraiais em todas as eiras do povoado. Nada ficava por malhar. Os mangualdes
faziam parte do passado e tinham dado lugar a essa máquina, imponente, que
quando bem alimentada, era um regalo vê-la parir sacos de centeio com a mêda a
desfazer-se.
Há muitos anos atrás a malha (debulha) de cereais como o
trigo e o centeio era toda feita, na eira, através de força braçal
utilizando-se o mangual. Quando se começou a generalizar o uso das malhadeiras
mecânicas, ainda de tracção animal no que se refere à sua deslocação,
continuou-se a fazer o transporte do cereal para a eira, com recurso ao carro
de bois. No que ao seu funcionamento diz respeito, estas máquinas eram postas a
trabalhar, através de uma enorme correia de transmissão, por um motor a vapor
(de combustão externa), que, tal como a malhadeira, não era ainda dotado de auto
mobilidade, também para a sua deslocação era necessária uma junta de vacas.
Em zonas em que predominava o minifúndio só muito poucos
tinham capacidade financeira que lhes permitisse a aquisição deste tipo de
equipamento. Os que o conseguiam tentavam rentabilizar o seu uso colocando-o ao
serviço da comunidade mediante a cobrança de uma maquia, em cereal,
proporcional à produção de cada um.
Este é o palheiro. Palheiro este que era feito com a palha
que saia da malhadeira. Palha esta que saia suavemente para a frente da máquina
e, sem cair, com a ajuda de ancinhos, alguém se encarregava de a colocar na
verga, sempre segura, pela mão do vergueiro.
Os vergueiros, que chegavam a ser três ou quatro, eram
geralmente rapazes, que pela sua idade, além de ágeis a subir a escada do
palheiro, entravam ao despique de qual deles conseguia levar o borrego maior.
Quantas vezes, por desequilíbrio, quando estavam ao meio da escada, era vê-los
malhar com os costelaços no chão; raramente com danos físicos, porque se
atiravam de modo a que o borrego da palha servisse de almofada na queda.
- Pichotes... Gritavam os mais velhos.
Os vergueiros, sempre sorridentes, mas algumas vezes,
feridos no orgulho, principalmente quando se exibiam perante as moçoilas,
respondiam com borregos ainda maiores, para mostrarem que a queda tinha sido um
percalço na sua carreira de vergueiro afamado e valentão.
Quem não gostava nada de os ver chegar com volumosos
borregos era o palheireiro, principalmente, na fase do remate final do palheiro.
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