sábado, 11 de setembro de 2010

Recordar o Chiar dos Carros de Bois Carregado

Desde o neolítico até ao fim do século XX os carros de bois eram usados como meio de transporte para cargas pesadas, nesta terra. O feno, as batatas, o pão e todas as colheitas vinham para as aldeias ao som característico que tornava os agricultores

Não sabemos quando começaram a ser utilizados nesta faixa de terra. Mas, desde que vimos os filmes sobre Júlio César, sabemos que os Romanos usavam carros de bois, para transportar cargas mais pesadas. Na aldeia, lugar resistente às grandes revoluções, os tractores só no fim do passado milénio terão substituído por cavalos de tracção a força dos animais domesticados pelo homem. Durante mais de dois mil anos as colheitas tinham o ressoar de uma carga transportada com esforço. Era costume, em certas aldeias, apertar o eixo, pouco antes de chegar à aldeia, para fazer chiar o carro. Assim demonstrava-se a todos que era grande a colheita, bom o agricultor, enorme a carrada e a fome havia de ficar só para os “laratos” (nome dado aos preguiçosos) durante o Inverno. A fricção, de demasiado apertada, ou prolongada, podia fazer incendiar toda a carga. Era um risco que corriam, calculado com alguma temeridade. Antigamente toda a gente da aldeia tinha carros. Os meus pais também tínham um. Com os carros transportava-se o estrume para as terras, as batatas na arranca, os molhos das cearas para as laigas, o feno para os animais e todos os frutos do trabalho do campo. Trazer uma grande carrada e saber carregar muito um carro, puxado por bois ou vacas, era a proa de muitos agricultores. Para os animais puxarem aos carros, lavrarem e fazerem todos serviços que hoje fazem os tractores, tinham que ser amansados. Alguns eram mais resistentes, outros metiam a cabeça no jugo com mais facilidade. Era um trabalho feito com temeridade. Os animais eram domesticados à força de muita “porrada”. Depois, ou ficavam mansos, ou eram declarados irremediavelmente bravos. Sendo esse o caso, encurtavam, normalmente, a distância de tempo que os separava da próxima feira, ou do matadouro. “Para amansar tem que ser com uma cria mansa, se não, não dá. A mansa pegava na brava. Hoje, “tudo mudou”. Não é que sejam tempos mais fáceis estes, são é muito diferentes.


Vacas "Jarmelistas" antigas vacas de trabalho.

A Vaca “Jarmelista” é uma raça autóctone. A sua história perde-se nos tempos, mas parece haver consenso que derivou do mirandês. “O mirandês veio da zona de Miranda do Douro, estendeu-se por toda da zona da raia, chegou ao alentejo e até à zona de Lisboa, é a raça mais expandida em termos nacionais. Era uma vaca de trabalho, mas aqui nesta zona foi seleccionada, ao longo de bastantes anos, também para o leite.
Porque há uns anos atrás ainda não havia aquelas vacas pretas e brancas, e como não havia tractores ela era utilizada como força de trabalho.

Foi igualmente seleccionada no sentido de dar cada vez mais leite para a produção, o que, inadvertidamente, deu origem a uma sub-raça da mirandesa”, explica António Cerca, criador de vaca e vitela mirandesa. A jarmelista era uma vaca grande, sempre do tamanho das maiores mirandesas, normalmente não tinha os chifres certos, o que também acontece na mirandesa, mas nesta raça são excepções, e o que mais a distinguia era a produção leiteira, explica. Este engenheiro zootécnico utiliza os verbos no passado porque é de opinião que a raça jarmelista está extinta.
Extinta? Em vias de extinção? Fazem-se esforços para salvar o que há para salvar.


Vacas de raça Turina "Frísia"

A raça nacional para a produção de leite
A expansão da raça em Portugal acompanhou a evolução do consumo de leite no nosso país, estando a produção de leite assente essencialmente em animais desta raça.
O Livro Genealógico Português da Raça Bovina Frísia foi instituído em 1959, enquanto o contraste leiteiro se iniciou de forma organizada em 1960.

O aumento do nível de vida dos portugueses a partir dos anos sessenta, bem como a melhoria das condições higieno - sanitárias na produção e transformação do leite e seus derivados, fez disparar o consumo de leite no nosso país. A acompanhar este incremento na produção e consumo de leite, o número de animais Frísios também aumentou, substituindo nalguns casos as raças autóctones tradicionalmente utilizadas para a produção de leite, e disseminando-se por todo o território nacional, estendendo-se mesmo a regiões que tradicionalmente não eram consideradas como de produção bovina leiteira.

Nos últimos trinta anos, além do aumento do efectivo frísio, deu-se também uma evolução genética sem precedentes da raça com a holsteinização dos efectivos nacionais, fruto da introdução de novas tecnologias como a inseminação artificial nos anos 70 e mais recentemente com os transplantes de embriões. Outro factor que contribuiu para a holsteinização dos bovinos Frísios no nosso país, foram os abates sanitários devido à Peripneumonia Contagiosa dos Bovinos, e a consequente importação em grande número de animais provenientes da Holanda, França, Alemanha e Dinamarca.

Características

Os animais desta raça possuem uma morfologia nitidamente de aptidão leiteira, facilmente observado no grande desenvolvimento do sistema mamário e com uma capacidade corporal que lhe permite consumir grandes quantidades de forragem e valoriza-la.
A vaca Holstein Frisia é um animal precoce de grande corpulência, podendo atingir 1.54 m de altura à garupa e pesar 600 a 700 Kg.. Tem como característica o facto de possuir malhas pretas e brancas, que em alguns caso poderão ser vermelhas e brancas devido a um gene recessivo.
A cabeça destes animais é comprida e dolicocéfala, com os olhos bem aflorados e o focinho largo. O pescoço é comprido e delgado, sendo a barbela pequena, o peito largo e as costelas arqueadas e profundas. A garupa é larga com os ossos ilíacos bastante salientes. O úbere é volumoso com ligamentos fortes e a pele macia e fina, coberta de pelos sedosos e curtos.

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